...por apenas cinco minutos...
Uma única terça-feira, uma vez por ano, num dos encontros noturnos mais incríveis de antigos que eu conheço, quem é apaixonado por Galaxie sabe, com todo o peso da palavra paixão, o que estou tentando descrever agora.
São centenas de pessoas reunidas com um único propósito, preservar um ícone gigante da história automobilística no Brasil, um automóvel que transportava pessoas que fizeram nossa história, nas indústrias, nos batalhões, nos quartéis, nas prefeituras, na presidência e até na igreja.
Um objeto de desejo de ontem, de hoje e com certeza, os amigos que cuidam destas relíquias motoras, irão, mas ele permanecerá para os desejos de futuras gerações!
Quando restauramos estas barcas para nós e andamos como num desfile com elas, observando os olhares mais distintos, os sorrisos, o apontar de dedos ao passarmos, as perguntas ditas aos ventos dos motoristas ao lado, por isso, com certeza, não iremos dar de beber a ele qualquer gasolina, não será um óleo barato que lubrificará o seu coração de oito pistões, não será um mecânico qualquer que colocará as mãos em sua estrutura, por isso acredito que nós, donos de passagem, turistas nos volantes dos nossos antigos, iremos, mas eles continuarão a saga de gritar a nossa curta, porém, bonita história automotiva nacional.
Eles ficarão aí, com outros apaixonados, que esperamos serem assim como nós, cuidadosos com nossos filhos de lata, como diz um grande amigo.
Sozinho, na estrada, ouvimos músicas, sorrimos e tanto ele como eu sabemos, quando algum de nós não está muito bem, o fim-de-semana chega e lá vamos nós, trocar as velas, cabos, limpar o carburador, mistura de ar/combustível e pronto, saímos novamente para uma volta de teste e percebemos que estamos recuperados, aliviados, pois ambos foram curados.
A vida de um veoitero não é fácil, sempre falta uma peça, sempre outra resolve parar, gastos infinitos, procuras incessantes atrás de peças que parecem que foram abduzidas para outra dimensão. Mas passando em um desmanche qualquer de um bairro com nome estranho, resolvemos parar para vasculhar e o quão gratificante não é quando a tal peça está lá, apenas esperando por você. Não existe valor que pague este achado!
O engraçado, quando casado, de ver a expressão da esposa que não consegue entender tais atos, para elas insensatos e totalmente débeis, de parar o carro de repente e ir caçar nos ferros-velhos da vida, e quando voltamos com uma peça enferrujada nas mãos e a fisionomia de total êxtase, com um sorriso de Monalisa estampado no rosto, só quem tem o sangue enferrujado para entender esse processo, que creio, mesmo eu sendo um destes malucos, acredito realmente que é um gesto de total loucura.
Assim somos nós pelos nossos carros, apaixonados pelos motores, pelo cheiro da gasolina, viciados em odores de óleo queimado, pneus quentes, potência e o principal, ter centenas de cavalos naquele haras chamado V8!
O que ganhamos com isso? Prazeres indescritíveis, olhares que só quem está pilotando um destes sabe ler, dentro daqueles olhos passam pensamentos energéticos, que nos alimentam, que nos trazem prazer, que faz as pessoas voltarem no tempo, reviverem pedaços lindos de suas vidas, pessoas que foram valorosas, sonhos concretizados ou ainda a concretizar, como ouvi uma vez – ainda terei um deste - e o dono da frase já era de idade!
Vê-los reunidos, um mais lindo que o outro, lado a lado, cada qual com suas histórias, vindos dos lugares mais interessantes ou estranhos possíveis, restaurado, reluzentes; gostaria que, por apenas cinco minutos, eles pudessem falar, contar suas histórias, desde o primeiro dia de vida, falar ao ouvido de seus donos atuais, pois, por mais que saibamos sobre o nosso carro, sempre haveria algo que o carro poderia nos contar e seria uma surpresa deliciosa, algo que só ele e os antigos donos viveram.
Loucura? Mas assim vivemos nós e nossos antigos.
Mas o presente mais importante de tudo, além destes e de outros prazeres que nos proporcionam é o de ganharmos centenas de amigos maravilhosos e que compartilham do mesmo gosto, do mesmo pensamento, do mesmo sentimento, acabamos vivendo então uma irmandade e como somos irmãos, um ajuda ao outro e assim vamos juntos, vasculhando, procurando e quando achamos e não podemos tê-los para nós, passamos pra quem? Para um irmão, claro, pois sabemos que apenas alguém desta grande irmandade irá cuidar com o mesmo carinho e zelo, como se fosse eu!
E quando isso acontece é quase como se eu mesmo tivesse adquirido tal carro, pois a satisfação de saber que um ícone foi parar nas mãos certas, é um grande alívio!
E poder desfilar todos juntos, numa única terça-feira em meio a trezentos e sessenta e cinco dias, direi emocionante, pois a sensação disto, desconheço palavra para descrever!
Obrigado Imperador, pois se você não tivesse cruzado meus caminhos um dia e insistido nos olhares, me conquistado para possuir um V8 novamente, não teria os amigos que tenho hoje.
A você, meu querido filho de lata, eu dedico esta pequena homenagem!
OBRIGADO!!!
Marcelo Senteio
23-03-2011 23h13
Nenhum comentário:
Postar um comentário