O grande colecionador Pablo Neruda,
Escreveu "Ode às coisas"
As coisas que amamos.
Feliz dia! A velha garagem:
Amo as coisas loucas,
Loucamente.
Gosto de alicates.
As tesouras,
Adoro
As canecas,
As argolas,
As terrinas,
Sem falar, claro.
Do Chapéu.
Amo
Todas as coisas,
Não só
As supremas,
Mas
As
Infinita -
Mente
Meninas,
O Dedal,
As esporas,
Os pratos,
Os vasos.
Oh, minha alma,
Lindo
É o planeta.
Cheio
De cachimbos
Pela mão
Condução
No fumo,
De Chaves,
De Saleiros,
Enfim,
Tudo
O que foi feito
Pela mão do homem, tudo:
As curvas do sapato,
O tecido,
O novo nascimento
Do Ouro
Sem o sangue,
Os óculos.
Os pregos,
As Vassouras,
Os relógios, as bússolas,
As moedas, a suave
Suavidade das cadeiras.
Ai quantas
Coisas
Puras
Tem construído
O homem:
De lã,
De Madeira,
De vidro,
De cordéis,
Mesas
Maravilhosas,
Navios, escadas.
Amo
Todas
As coisas,
Não por serem
Ardentes
Ou perfumados,
Mas porque
Não sei.
Porque
Este oceano é o teu.
É o meu.
Os botões,
As rodas,
Os pequenos
Tesouros
Esquecidos,
Os leques em
Cujos penas
Desapareceu o amor
Seus corsage,
Os Copos, as facas,
As tesouras,
Tudo tem
No Cabo, no contorno,
A pegada
De uns dedos,
De uma mão remota
Perdida
No mais esquecido do esquecimento.
Eu vou por casas,
Ruas,
Elevadores,
Tocando coisas,
Divisando objetos
Que em segredo ambição:
Um porque tilintar,
Outro porque
É tão suave
Como a suavidade de uma anca,
Outro pela sua cor de água profunda,
Outro pela sua espessura de veludo.
Oh Rio
Irrevogável
Das coisas,
Não se dirá
Que só
Amei
Os peixes,
Ou as plantas da selva e da pradaria,
Que não só
Amei
O que salta, sobe, sobrevive, suspira.
Não é verdade.
Muitas coisas
Disseram-me tudo.
Não só me tocaram
Ou tocou-me na mão.
Mas que acompanharam
De tal modo
Minha existência
Que comigo existiram
E foram para mim tão existentes
Que viveram comigo meia vida
E morrerão comigo meia morte.
Poesia pura!
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