quinta-feira, 26 de maio de 2011

AVICA - Associação das vitimas de carros antigos


E S T A T U T O
Da definição:
§ 1º. A Associação das Vítimas de Carros Antigos, doravante chamada AVICA, é uma associação sem fins lucrativos (por motivos óbvios) que tem o propósito de congregar indivíduos com diagnóstico de Síndrome de Antigomobilite Aguda, doença que se caracteriza pela sistemática aquisição intempestiva e mal concretizada de carros antigos, invariavelmente provocando traumas econômicos e/ou psicológicos nas vítimas.
Da associação:
§ 2º. Poderão ser sócios da AVICA quaisquer indivíduos que tenham transformado a aquisição de um carro antigo em um drama familiar, particularmente aqueles que, em função de uma malfadada aquisição, ou de uma tentativa de restauração ainda pior, passaram a ter dificuldade de relacionamento com a sociedade e apresentam intensos sintomas de depressão pós-compra.
§3º. Serão considerados sócios honorários da AVICA todos os indivíduos, brasileiros ou estrangeiros, que comprovarem perda patrimonial igual ou superior a 30 salários mínimos na aquisição de carros antigos, despesa considerada a partir do momento em que a vítima demonstrou interesse pelo que deveria ser um “hobby” e transformou-se em uma tragédia.
§4º. Os associados que estiverem com síndrome de abstinência, isto é, que apesar de terem sido afligidos por intensos sofrimentos ainda insistam em adquirir outro carro antigo, terão acompanhamento psicológico dos sócios curados, assim considerados aqueles que não possuem carro antigo há mais de cinco anos. O tratamento inicial será realizado em uma carcaça de Simca Chambord 1966, gentilmente cedida por um antigomobilista anônimo.
Da organização:
§5º. A diretoria da AVICA será composta de uma presidência, um conselho consultivo e três departamentos de vítimas: a de carros nacionais, a de carros americanos e a de carros europeus. Nesta última concentram-se os casos mais graves.
Da sede:
§6º. A AVICA não possui sede própria, pois, se tivesse, certamente já teria sido penhorada para pagar dívidas dos associados. As reuniões são realizadas em locais aprazíveis, normalmente em áreas inóspitas, onde não possam ser encontrados carros antigos para evitar má influência sobre os sócios traumatizados.
Das atividades:
§7º. A AVICA promoverá palestras ocasionais alertando seus associados, vítimas em potencial, sobre o perigo da aquisição de um carro antigo. Nessas ocasiões, os sócios recuperados darão o testemunho de seu sofrimento, narrando as dificuldades financeiras que enfrentaram, seus dramas pessoais e a forma como recuperaram o amor próprio ao se desfazerem de seus veículos antigos, sempre com perdas irreparáveis.
§8º. Mensalmente a AVICA realizará uma “Sessão do Desmonte”, na qual os associados queimarão fotos e destruirão peças de seus carros antigos. Nessa ocasião eles receberão a “Arruela da Felicidade” que os ajudará a livrar-se definitivamente das lembranças obscuras.
Das obrigações:
§9º. Ao ingressar na AVICA, os membros se comprometem solenemente a cumprir o juramento da instituição: “Prometo não me envolver com qualquer forma de atividade ligada a carros antigos; a não comparecer a qualquer reunião, salão, exposição ou qualquer evento envolvendo carros antigos; a não visitar ferros-velhos; a não fazer assinaturas nem adquirir em banca revistas que tratem do tema carros antigos e, acima de tudo, para o meu bem estar e de toda a minha família, a jamais sucumbir à tentação de adquirir outro carro antigo. Hei de vencer!”.
Do auxílio mútuo:
§10. Os associados, baseados no conhecimento de uma Lei de Murphy que diz “não é justo que os idiotas fiquem com o próprio dinheiro”, prometem dedicar-se inteiramente à defesa dos interesses dos associados, evitando que façam compras inopinadas, principalmente as que ocorram à revelia da família e da orientação de seus verdadeiros amigos.
§11. Caso um associado em um surto alucinógeno adquira um carro antigo, seus companheiros de infortúnio lhe darão todo o apoio para que se livre do veículo antes que os prejuízos se estendam além do suportável.
Em complemento a este estatuto, transcrevemos abaixo algumas cartas de agradecimento de membros que ingressaram na AVICA quando estavam desesperados. Os nomes verdadeiros foram omitidos em sinal de respeito.

"Sr. Presidente.
Eu julgava haver chegado ao fundo do poço. Em apenas um ano comprei um Citroén DS 1958 e um DKW Sedan 1958, cujas restaurações quase me levaram à falência. Para fazer essas aquisições hipotequei minha casa e, em poucos meses, suspendi o tratamento dentário de meu filho porque precisava de um párabrisas. Graças à AVICA hoje sou um novo homem. Agora possuo apenas um Corsa 1998 e sou considerado pelos vizinhos e pela família uma pessoa quase normal.
Muito obrigado!"
Assinado: Chassi empenado (pseudônimo)

"Sr. Presidente.
Somente após conhecer o trabalho da AVICA percebi que os carros antigos haviam me levado à ruína. Cheguei a vender a dentadura da sogra para comprar um espelho retrovisor e anunciei um de meus rins na Internet porque desejava adquirir um Karman-Ghia. A AVICA me acolheu a tempo. Minha mulher já voltou para casa e estou quase terminando de pagar minhas dívidas com as oficinas mecânicas.
Sou-lhes eternamente grato."
Assinado: Príncipe dos cromados (pseudônimo).

"Sr. Presidente.
Depois de largar a família para viver em um ferro-velho me dei conta de que não poderia mais continuar nesse rumo. Após algumas aquisições mal sucedidas, dentre elas um SKODA 1957, irrecuperável, meu guarda roupa ficou reduzido a um macacão. Passei a sobreviver com uma cesta básica doada por amigos, que invariavelmente eu vendia para comprar peças para os carros. Quando a AVICA surgiu em minha vida eu já usava como marmita uma tampa de válvulas de um Fusca 64. Com o apoio da AVICA, recebi umas roupas usadas, aposentei meu macacão e já resido em uma quitinete alugada por amigos.
Por favor, continuem o bom trabalho. Precisamos de vocês.
Atenciosamente."
Assinado: Pára-brisas trincado (pseudônimo).

Autor: Rubens Perligeiro

quarta-feira, 25 de maio de 2011

Oficina Hobby

No inicio a intenção era de uma oficina, apenas com algumas máquinas e ferramentas, o necessário para se consertar, restaurar e até produzir peças relacionadas à automobilia, já que a moda retro ou vintage está em alta.
Visitando várias oficinas, marcenarias, tornearias, conversando com pessoas ligadas a tantas profissões, algumas quase que extintas, descobriu-se que por traz das máquinas, ferramentas, objetos e outras tantas coisas que foram surgindo, havia sempre uma história, de quem usou, para que, fabricou o que com tais ferramentas.
Houve então a necessidade de resgatar essas preciosidades e preservar tudo que acompanha cada uma delas.
E assim nasceu a Oficina Hobby. Salvando peças de galpões de reciclagem, não permitindo que a memória se perca, simplesmente sejam jogadas fora ou descartadas.